

Juventudes em Foco: Tudo está interligado – Casa Comum, juventudes, esperança
Em: 14/04/2025
Por: Eduardo Schmitz
Categorias: Vocacional Blog
Por: Ana Elisa de Godoy Beltrame. Formada em Engenharia Agronômica pela USP e Licenciada em Pedagogia pela Univali. Mestre em Agronomia e Doutora em Ciências pela USP. Educadora do Colégio Salesiano Itajaí
O Papa Francisco, na Carta Encíclica Laudato Si’, fala sobre o cuidado com a Casa Comum. Ele destaca que essa casa acolhe a todos e deve ser compartilhada por todos. O Papa expressa sua preocupação com a exploração dos recursos naturais e faz um apelo por um desenvolvimento sustentável e integral. Ele também afirma que os jovens exigem uma mudança (Carta Encíclica, 2015).
Boff (2017) também manifesta sua preocupação com a urgência de uma mudança de paradigma. Ele propõe que essa transformação esteja baseada nos princípios da Carta da Terra, documento que reúne valores éticos fundamentais para a construção de uma sociedade justa e sustentável. Para o autor, respeitar os limites de cada bioma e considerar as necessidades das gerações presentes e futuras são pilares essenciais para alcançar a sustentabilidade plena.
A Campanha da Fraternidade 2025 (CF 2025) traz como tema “Fraternidade e Ecologia Integral” e como lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). A proposta é refletir sobre a urgência do cuidado com a Casa Comum e promover a ecologia integral. A temática dialoga com três marcos importantes: os 10 anos da Encíclica Laudato Si’, os 800 anos do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis, e a realização da COP-30 – Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas.

O conceito de ecologia integral foi reconhecido pelo Papa Francisco na encíclica Laudato Si’, evidenciando não apenas o cuidado com o planeta, a Casa Comum, mas também com todos os seus habitantes, com todos os seres vivos que a habitam e com todas as relações, uma vez que tudo está interligado.
Nesse contexto, pensar a ecologia integral é um convite ao despertar. Trata-se de reconhecer a realidade e assumir decisões que transformem os rumos que estamos trilhando. Colocar as juventudes como protagonistas desse processo é olhar para o futuro com perspectivas plurais. As juventudes lutam para mostrar caminhos, indicar possibilidades e afirmar que a construção de um futuro melhor começa com os jovens do presente.
Falar sobre a sustentabilidade do planeta é também falar sobre o futuro. E isso inclui refletir sobre as juventudes, que estão inseridas nesse processo. Ao se reconhecerem como parte da realidade da crise socioambiental, os jovens são convidados a compreender a importância da Campanha da Fraternidade. Essa Campanha não deve ser vista como um evento isolado, mas como um processo contínuo. Ela precisa ser assumida como uma política educativa e como parte do compromisso identitário da fé cristã.
Compreender o papel da sociedade, especialmente das juventudes, na construção de um mundo mais justo e sustentável, exige a valorização do indivíduo em seus direitos fundamentais: à vida, à liberdade e à busca pela felicidade. A proposta de sustentabilidade deve apontar para um futuro que garanta a continuidade da vida. Para isso, é preciso adotar um conceito mais integrador, que favoreça uma nova relação com o planeta. Essa mudança é urgente diante da perda da biodiversidade, da escassez de água e da destruição das florestas — situações agravadas, segundo Boff (2017), pelo crescimento populacional e pela ideia equivocada de que a Terra é apenas um baú de recursos.
Nossas juventudes estão inseridas num panorama populacional significativo e, no Brasil, representam a maior geração de jovens da história, com um quadro populacional de quase 50 milhões de jovens. Assim, é imprescindível considerar as juventudes como um segmento estratégico da população para o futuro, uma vez que esse grupo populacional será responsável pela geração de recursos que sustentarão o crescente envelhecimento da população (Atlas das Juventudes, 2022).
Por isso, é necessário refletir com atenção sobre o processo despertado pela CF 2025. As questões ligadas ao cuidado com a Casa Comum estão inseridas em um contexto de crise que não é apenas local, mas global. Essa realidade exige a convergência de estratégias, soluções e mudanças concretas. O engajamento das juventudes, nesse cenário, é fundamental para impulsionar ações que contribuam de forma efetiva com a preservação e a recuperação da Casa Comum.
Anualmente, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças no Clima (COP) reúne pessoas de diferentes países com o objetivo de dialogar sobre as decisões climáticas globais. Natália Maia, jovem amazônida e consultora da Fundación Avina no Programa Vozes pela Ação Climática Justa (VAC), destaca a importância de ampliar a participação da sociedade civil nesses espaços, especialmente em suas diversas dimensões. Ela tem atuado para fortalecer a presença de jovens amazônidas nas conferências, promovendo sua escuta e protagonismo (Vozes pela Ação Climática Justa, 2024).
O discurso da jovem indígena brasileira Txai Suruí, na abertura da COP-26 em 2021, foi um exemplo marcante da participação juvenil e indígena nos debates globais sobre clima. Atuante na defesa da floresta em pé, dos direitos humanos e da justiça socioambiental, Txai afirmou:
“Meu pai, o grande cacique Almir Suruí me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a Lua, o vento, os animais e as árvores. Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo. […] Precisamos tomar outro caminho com mudanças corajosas e globais. Não é 2030 ou 2050, é agora! […] Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui. Nós temos ideias para adiar o fim do mundo. […] Vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis. É necessário sempre acreditar que o sonho é possível.” — Txai Suruí, COP-26 (WWF, 2021)

O grito de socorro de uma jovem que vive intensamente o conceito de ecologia integral revela a urgência de tomarmos um novo caminho. São necessárias mudanças corajosas e de alcance global. A partir de sua vivência com temas socioambientais, Natália Maia afirma que não é possível falar em justiça climática sem incluir as juventudes. Para ela, os jovens representam a esperança de transformação, tanto no presente quanto no futuro. São esperança porque vivem o movimento entre sonho e realidade. Apresentam soluções criativas, dinâmicas e inovadoras, guiadas por um desejo profundo de construir uma sociedade mais justa e verdadeiramente humana (Vozes pela Ação Climática Justa, 2024).
Esse chamado está em sintonia com o objetivo geral da Campanha da Fraternidade 2025, que propõe “promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra”. Trata-se de ressignificar o apelo do Papa Francisco pela conversão ecológica, reconhecendo que essa responsabilidade não recai apenas sobre as juventudes. A crise é coletiva, e o compromisso também deve ser. Essa conversão precisa acontecer em todas as dimensões da vida: ambiental, econômica, social, cultural, cotidiana e espiritual. O desafio é cuidar da casa — da casa interior, sustentada pela espiritualidade; da casa onde vivemos com nossas famílias; da casa onde estudamos e trabalhamos; da casa que habitamos em sociedade, como as cidades; e, sobretudo, da nossa Casa Comum, o planeta Terra. Afinal, como nos recorda a CF 2025, “tudo está interligado” (CF, n. 16).

Neste ano, o Observatório Salesiano de Juventudes está organizando a série de textos Juventudes em Foco. As publicações serão aqui no site da inspetoria. Serão pequenas reflexões sobre as realidades e culturas juvenis, em suas mais variadas expressões e desafios. Serão escritas por educadores, professores, gestores e colaboradores salesianos, que vão partilhar seu conhecimento e sua experiência de forma simples, com o objetivo de pensarmos juntos e juntas.
Acompanhe nossas próximas publicações, compartilhe com os educadores da sua obra, com as lideranças paroquiais, catequistas e todas as pessoas que, assim como nós, tem um coração salesiano.
Você também gostaria de participar escrevendo uma reflexão ou sugerindo temas? Escreve para a gente: observatoriosalesiano@dombosco.net
Referências Bibliográfica
ATLAS DAS JUVENTUDES. Evidências para a Transformação das Juventudes. Disponível em: https://atlasdasjuventudes.com.br/wp-content/uploads/2021/06/ATLAS-DAS-JUVENTUDES-COMPLETO.pdf. Acesso em: 10 de março de 2025.
BOFF, L. Sustentabilidade: o que é: o que não é. 7 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2017, 222 p.
CARTA ENCÍCLICA. Laudato Si, (24 de maio de 2015). Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html. Acesso em: 10 de março de 2025.
MAIA, N. Delegação VAC Brasil na COP 28: Juventudes em foco. Revista Vozes pela Ação Climática Justa, edição 3, outubro de 2024. Disponível em: https://issuu.com/institutointernacionaldeeducacaobr/docs/revistavozes-ed3-21x28cm-digital-port-out-2?fr=xKAE9_zU1NQ. Acesso em: 10 de março de 2025.
TXAI SURUÍ, jovem indígena brasileira, acaba de discursar na abertura da COP 26. WWF, 2021. Disponível em: https://www.wwf.org.br/?80429. Acesso em: 14 de março de 2025.
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