Juventudes em Foco: Acompanhamento integral salesiano

Por: Gilson Oliveira Cardoso, licenciado em Filosofia pela PUCRS, mestre em Educação pela PUCRS e doutorando em Teologia pela EST. Coordenador de Pastoral do Colégio Dom Bosco de Porto Alegre e Faculdade Dom Bosco.

Cuidar da vida dos jovens em sua totalidade é uma das marcas mais profundas do carisma salesiano. Mais do que orientar vocações ou oferecer conselhos espirituais, o acompanhamento integral proposto por Dom Bosco envolve escuta, presença e confiança. No contexto atual, marcado por desafios, anseios e buscas espirituais, retomar esse modo de estar com os jovens — como guias, companheiros e referências — é uma urgência pastoral. Este texto propõe uma reflexão sobre as raízes e os horizontes do acompanhamento integral salesiano, inspirando-se nos recentes movimentos da Igreja e da Congregação e apontando caminhos para a missão educativo-evangelizadora nas presenças salesianas.

Antes de entrarmos no tema do acompanhamento integral em si, é importante recordar algumas experiências que o precedem e o iluminam. Em 2018, o Sínodo dos Bispos sobre “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional” refletiu sobre como apoiar os jovens em sua jornada de fé e no discernimento de suas vocações. Em 2023, a Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, ofereceu uma imagem viva de uma Igreja sinodal, onde juventudes de todo o mundo se encontraram com alegria, simplicidade e disponibilidade para caminhar juntas. No ano seguinte, em 2024, o Sínodo da Juventude Salesiana celebrou as aspirações dos jovens ligados ao carisma de Dom Bosco e fez memória do bicentenário do “Sonho dos Nove Anos”. Já a Estreia de 2025 — “Ancorados na esperança, peregrinos com os jovens” — convida-nos a integrar essa vivência sinodal ao Jubileu da esperança e aos 150 anos da primeira expedição missionária salesiana. Todos esses momentos reforçam uma convicção: os jovens querem ser escutados e desejam caminhos de fé que considerem sua integralidade.

O acompanhamento integral salesiano é expressão concreta desse desejo. Trata-se de um modo de educar e evangelizar que integra todas as dimensões da vida do jovem: afetiva, espiritual, social, vocacional, intelectual e comunitária. Não se limita a uma ação pontual ou a um agente específico, mas acontece em todos os espaços da casa salesiana. Nessa perspectiva, toda a comunidade é chamada a ser presença significativa e inspiradora.

Essa visão está presente nas palavras do cardeal Dom Ángel Fernández Artime, Reitor-Mor emérito, ao apresentar o documento “Jovens Salesianos e Acompanhamento – Orientações e Diretrizes” (Roma, 2019). “Caminhar com os jovens e encorajá-los a dialogar de maneira livre e responsável com o Senhor que chama é uma tarefa que está na essência da vocação e da missão salesianas“, afirma o documento. Segundo ele, é essencial criar uma atmosfera de confiança e confidência — onde os jovens se sintam amados como são. Embora o documento seja voltado principalmente para agentes da formação salesiana inicial (diretores espirituais, formadores, confessores, diretores, delegados inspetoriais para a formação), sua inspiração se estende a todos os membros da comunidade educativo-pastoral: cada pessoa tem um papel no processo de acompanhamento integral.

O Capítulo Geral 26 dos Salesianos (CG26), realizado em 2008, também destacou a importância do acompanhamento, principalmente no campo espiritual. Ao expandir suas reflexões para o campo integral, é possível identificar três eixos fundamentais:

1. Oferecer oportunidades e itinerários que preparem para o acompanhamento no interior da Pastoral Juvenil Salesiana;
2. Entender o desafio do acompanhamento a partir da perspectiva carismática e da pastoral enquanto ambiente e estilo de caminhar com as juventudes;
3. Compreender os desafios que, em nível muito pessoal, devem ser indicados e descobertos pela pessoa que acompanha.

As formas de acompanhamento são muitas: individuais ou em grupo; orientações espirituais ou aconselhamentos pastorais; formais como o sacramento da reconciliação, ou informais, como um diálogo cotidiano no pátio. Há acompanhamento feito por professores, coordenadores, catequistas, líderes de grupo e tantos outros. O importante é que tudo e todos na casa salesiana cooperem para que cada jovem se sinta acompanhado de maneira integral, isto é, amado, escutado, encorajado e orientado.

A vocação de quem acompanha exige uma vida de fé autêntica e madura. O acompanhamento não é apenas um serviço prestado ao outro, mas um reflexo da própria experiência de Deus de quem acompanha. Leigos e religiosos consagrados são chamados a cultivar a oração, a escuta, o discernimento e a esperança — para que, assim como Dom Bosco, possam ser sinais do amor de Deus na vida dos jovens.

Nesse sentido, a prática do acompanhamento só será fecunda se for também uma via de crescimento pessoal. É necessário, portanto, deixar-se interpelar pelas realidades dos jovens e, ao mesmo tempo, olhar para a própria história de vida como espaço de ação de Deus. Só quem reconhece a presença divina em sua trajetória poderá ajudar os outros a fazerem o mesmo.

Dom Bosco nos dá um exemplo eloquente desse processo. Em suas Memórias do Oratório, ele narra como reconheceu na própria história os sinais da Providência Divina. Ao recordar pessoas, encontros e experiências, ele revela o Deus que o conduziu desde a infância. Logo na introdução, escreve: “Estas memórias servirão para demonstrar como o próprio Deus guiou cada coisa a cada momento.” Esse olhar confiante e agradecido inspira o acompanhamento salesiano até hoje. A missão de acompanhar as juventudes deve ser vivida como resposta a uma ação maior: Deus que chama, que inspira e que caminha conosco.

Neste ano, o Observatório Salesiano de Juventudes está organizando a série de textos Juventudes em Foco. As publicações serão aqui no site da inspetoria. Serão pequenas reflexões sobre as realidades e culturas juvenis, em suas mais variadas expressões e desafios. Serão escritas por educadores, professores, gestores e colaboradores salesianos, que vão partilhar seu conhecimento e sua experiência de forma simples, com o objetivo de pensarmos juntos e juntas.

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